Águas
do Ipojuca, o rio e a sua bacia hidrográfica
Publico em meu blog, o artigo do professor João Domingos, que é muito atual. Esse artigo foi publicado a muitos anos atrás, quando pensávamos o Projeto Teia da Amizade que em breve, terá sua sequencia em nova modalidade. Vamos ao texto na íntegra.
“As águas são os espelhos do mundo”, assim dizia o famoso pintor Monet. E com todo razão! Quer conhecer uma cidade, saber se ela é bem cuidada ou se as pessoas vivem bem? Então olhe para as suas águas!
“As águas são os espelhos do mundo”, assim dizia o famoso pintor Monet. E com todo razão! Quer conhecer uma cidade, saber se ela é bem cuidada ou se as pessoas vivem bem? Então olhe para as suas águas!
Vejamos o caso do rio Ipojuca.
Os rios são como nós mesmos, têm
nascimento ou nascente, começam pequenos fazendo seus caminhos, seu curso de
vida, e deságuam em águas maiores, a exemplo do MAR, de onde vieram na forma de
chuva. Tudo é um recomeço!
Os rios são como as veias do
nosso corpo, só que o corpo dos rios é as bacias hidrográficas. Conjunto de
águas de uma região que correm para um rio principal.
Assim é a bacia hidrográfica do
rio Ipojuca, rio principal que lhe dá o nome. Nasce no município de Arcoverde,
na Serra do Pau d’arco, aproximadamente a 900 m de altitude, percorrendo cerca
de 323 km.
A Rede Hidrográfica do rio
Ipojuca é composta pela margem direita: riacho Liberal, riacho Papagaio, riacho
Tacaimbó, riacho Taquara, riacho Cipó, riacho do Vasco, riacho Pau Santo,
riacho Mocó, riacho das Pedras, riacho Verde, riacho Caruá, riacho Barriguda,
riacho Machado, riacho do Mel, riacho Continente, riacho Titara, riacho
Vertentes, riacho Macaco Grande, riacho Rocha Grande, riacho Prata, riacho
Cotegi, riacho Piedade e riacho Minas. Pela margem esquerda: riacho Poção,
riacho Mutuca, riacho Taboquinha, riacho Maniçoba, riacho Bitury, riacho
Coutinho, riacho dos Mocós, riacho Salgado, riacho Várzea do Cedro, riacho
Jacaré, riacho Sotero, riacho Cacimba de Gado, riacho da Queimada, riacho
Manuino, riacho do Serrote, riacho Bichinho, riacho Muxoxo, riacho São João
Novo, riacho Cueiro de Suassuna, riacho Pata Choca, riacho Cabromena, riacho
Sapocaji e riacho Urubu.
Passa, ou estão no seu caminho, 9
cidades pernambucanas (Sanharó, Tacaimbó, São Caetano, Caruaru, Bezerros,
Gravatá, Primavera, Escada e Ipojuca), mas muitas das suas águas se originam
nos demais 15 municípios que fazem parte oficialmente de sua bacia hidrográfica
(Arcoverde, Pesqueira, Venturosa, Alagoinha, Poção, São Bento do Una, Belo
Jardim, Cachoeirinha, Altinho, Riacho das Almas, Sairé, Amaraji, Chã Grande,
Pombos e Vitória de Santo Antão). Os quatros municípios como maior participação
territorial são: Pesqueira (606,79km2), Caruaru (387,62km2), São Caetano
(262,37km2) e Sanharó (235,45km2).
Começa no sertão, passando pelo
agreste e zona da mata, desaguando no oceano atlântico, litoral sul
pernambucano, no município de Ipojuca, região metropolitana do Recife.
Participa assim de 3 Regiões Fisiográficas, de 4 Mesorregiões, de 4 Regiões de
Desenvolvimento e de 5 Microrregiões de Pernambuco. Unidade de Planejamento
Hídrico – UP3 com área superficial de 3.433,58 km2 (3,49% do total do Estado),
segunda maior bacia hidrográfica em extensão do Estado.
O
recorte de geologia confere a bacia do rio Ipojuca cerca de 97% da área
representada por rochas cristalinas e cristalofiliadas do tipo Pré-Cambriano,
sendo os 3% restantes territorial com depósitos aluviais recentes, seguidos de
reduzidos afloramentos da formação Cabo, compreendendo arenitos com matriz
argilosa, além de vulcanitos (como registra o neck vulcânico existente no
município de Ipojuca). Este perfil territorial da Bacia Hidrográfica do rio
Ipojuca é revelador, em grande
medida, dos tipos de atividades desenvolvidas e das combinações de seus usos.
No seu caminho compõe paisagens
vegetais naturais das mais variadas como a Caatinga, a Mata Atlântica,
Vegetação Costeira e de Mangue. Poucas são as áreas ainda preservadas ou
destinadas para a conservação como a RPPN - Reserva Particular do Patrimônio
Natural Pedra do Cachorro em São Caitano (com 18 ha e Decreto Estadual nº
19.815/97), Parque Municipal João Vasconcelos Sobrinho em Caruaru (com 355 ha e
de Decreto Municipal nº 2.796/83), Unidade de Conservação Municipal da Serra
Negra de Bezerros (com 3,4 ha e Decreto Municipal nº 36/89) e Parque Municipal
Ecoturístico Pedra do Urubu em Primavera (com 30 ha e Decreto Estadual nº
16.828/93).
As águas antes de servirem aos
seres humanos são a sustentação dos ambientes. As águas na bacia do rio Ipojuca
se prestam aos mais diversificados fins. Na Pecuária (mata a sede dos animais),
na agricultura (irriga as plantações), no consumo humano por meio das mais
variadas finalidades, tais como abastecimento público, uso industrial, limpeza,
geração de energia (pequena hidroelétrica e termo elétrica), recepção de
efluentes domésticos industriais e agroindustriais, navegação interior e
portuária (Suape), pesca, turismo, recreação e lazer.
Foi identificado como o 3º rio
mais poluído do Brasil (IBGE, 2005), uma realidade de grandes contrastes entre
a degradação que ocorre especialmente nas cidades, bem como a beleza de
cenários naturais fabulosos como a Cachoeira do Urubu no município de
Primavera.
Seu nome tem origem em idioma indígena,
significando ÁGUAS TURVAS. Porém hoje poderia se dizer - ÁGUAS SUJAS.
Tem esgoto não tratado,
agrotóxicos, resíduos industriais e até dos matadouros. Usinas jogam os seus
restos e a população desavisada joga tudo mais o que não presta.
Alguns
ainda pescam e outras lavam roupa, crianças ainda brincam às suas margens,
imaginem quanto risco!
Constroem nas suas margens, por
necessidade ou ambição, retirando a vegetação natural chamada de Mata Ciliar,
que são como os cílios em nossos olhos têm a função de proteger.
O
rio Ipojuca fez e faz a história social e econômica de Pernambuco. Na sua foz
está o Porto de Suape onde entra e sai tanta riqueza, mais uma vez contrastando
com o descaso da falta de cuidado da sociedade em geral, especialmente dos
poderes públicos.
Os aspectos sócio-ambientais mais
expressivos apresentam cenários de desafios que limitam o aproveitamento do
potencial existente para o seu desenvolvimento, e ainda com problemas
relacionados aos recursos hídricos: insuficiente produção de água tratada,
elevadas perdas e grandes desperdícios ao sistema de abastecimento público que
não acompanham o crescimento das cidades; precário atendimento do sistema de
esgotamento sanitário, com baixa cobertura especialmente nas pequenas cidades e
quase total ausência na zona rural; deficientes serviços de limpeza urbana;
problemas de drenagem provocados pela ocupação inadequada do solo urbano;
poluição hídrica acentuada dos mananciais provocada por lançamentos de dejetos
e efluentes industriais; ausência de manejo adequado dos reservatórios.
Na Bacia Hidrográfica do rio
Ipojuca estão localizados 66 açudes de com tamanho relevante, são os mais
significativos: Pão de Açúcar em Pesqueira (54.696.500 m3), Pedro Moura Júnior
(30.000.000
m3) e Engenheiro Severino Guerra (17.000.000 m3) ambos em Belo Jardim e Manuíno
(2.021.000 m3) em Bezerros.
O território da Bacia
Hidrográfica do rio Ipojuca concentra algumas das maiores riquezas econômicas
do Estado de Pernambuco. Tanta riqueza de nada adianta, quando não é a seca que
castiga, vem a cheia e tudo arrebenta. A sua maior enchente ocorreu no mês de
fevereiro de 2004.
Associa-se
aos problemas acima referidos, as questões a seguir, relacionadas com os
recursos hídricos: precária qualidade de grande parte das águas superficiais,
em razão da ocorrência de manchas de solos com potencial para salinização das
águas e da operação deficiente dos reservatórios; pequenas possibilidades de
irrigação, pela ausência de manchas expressivas de solos irrigáveis que
justifiquem a irrigação em larga escala; retiradas de areia e dragagem
irregulares, represamentos (pequenos e médios açudes) e construções inadequados
(pontes, passagens molhadas e outros), lixões próximo a cursos d’água, pesca
predatória e não autorizadas (tanque-rede) com introdução de espécies não
nativas, desmatamentos (inclusive em áreas de nascentes de águas).
Muito felizmente existem pessoas
que lembram que o rio já foi limpo e que a sua bacia hidrográfica era um lugar
de realização. Estas pessoas acreditam na possibilidade de sempre se fazer
algo.
Um
dos maiores desafios é fazer retornar às condições SAUDÁVEIS destes AMBIENTES,
é re-naturalizar!
João
Domingos Pinheiro Filho – Professor e Mestre em Gestão e
Políticas Ambientais.
Caruaru, 21-05-2011